Por @GiorgiaBarreto
Ao longo dos meus 43 anos sempre procurei enfrentar com positividade as adversidades que a vida me impôs, procurando sempre enxergar o lado bom das pessoas e situações. Encarar a vida de forma mais positiva de fato, me ajudou a superar situações difíceis e levar a vida com mais leveza.
Felizmente, vejo que desde o início dos anos 2000 muitas pessoas estão se propondo a fazer o mesmo… encarar a vida de forma mais leve e positiva. Esse movimento se fortaleceu, ainda mais, com o lançamento do livro “O Segredo”, de Rhonda Byrne, em 2006, que nos apresenta a Lei da Atração, nos mostrando o quanto o pensamento positivo pode atrair felicidade, saúde, sucesso e riqueza, e provocar mudanças incríveis em nossa vida. O livro vendeu mais de 19 milhões de cópias em todo o mundo e foi traduzido em 44 idiomas, transformando-se depois em um filme.
Essa onda de positividade se intensificou com a internet e o surgimento das redes sociais. Porém, nos últimos anos, com a ascensão de influencers e blogueiros, que propagam conceitos de vida saudável e bem-estar, o que era apenas uma onda se transformou em uma tsunami. Diariamente nos deparamos com afirmações positivas, como: “A felicidade está a seu alcance!”, “Namastê”, “Good Vibes”, “Saia da sua zona de conforto!”, “Gratidão”, “É preciso encontrar seu propósito de vida!”, etc, etc.
As redes sociais estão repletas dessas e de outras tantas expressões do gênero, somos bombardeados por fotos de vidas “perfeitas”, plenas de felicidade e sucesso, acompanhados de textos e hashtag cheios de positividade. Gurus famosos e desconhecidos ditam regras em vídeos no Youtube e em programas de TV, para alcançar uma “Vida Perfeita”; milhares de Podcast com dicas de bem-estar e equilíbrio são distribuídos na internet, tudo em prol de uma vida mais “Good Vibes”. Eu mesma, já dei algumas dicas de como enfrentar a vida de forma mais positiva aqui em minha coluna (risos).
De uma hora para outra, ser positivo e feliz se tornou uma obrigação social. A busca frenética por selfies, com cenários perfeitos, os melhores sorrisos, sempre acompanhados de hashtags “Good Vibes”, são compartilhados no Instagram e Facebook, dando a tônica da vida que devemos levar dentro e fora das redes sociais, ou seja, livre dos maus sentimentos e emoções negativas. Tornou-se expressamente proibido demonstrar tristeza, aborrecimento e irritação, porque isso não rende likes, nem pega bem no bate papo com os amigos durante o happy hour.
Você deve estar se perguntando: “Mas Giorgia, como a positividade, que é algo tão legal, pode ser ruim? que mal há em sermos pessoas positivas?”. E eu te respondo: “não há mal algum, ser positivo é necessário e bem-vindo. A positividade é importante para que possamos enfrentar a dureza da vida e também enxergarmos a sua beleza”.
O problema é quando ela se torna uma imposição, quando nos exige permanente estado de felicidade, um eterno “Good Vibes”, que não nos permite demonstrar fraqueza, nos fazendo acreditar que é melhor ignorar sentimentos como raiva, tristeza e frustração, do que aprender a lidar com eles. É essa tirania da felicidade irreal e impossível que nos mostra o lado tóxico da positividade.
O termo Positividade tóxica se popularizou nos últimos anos para combater essa imposição tirânica da “vida perfeita” e da “felicidade plena”, onde sentimentos negativos são terminantemente proibidos. Obrigando-nos a negar a nossa condição humana, nos desconectarmos de nossa essência e provocando em nós sentimentos de desvalia e incapacidade, por não conseguirmos nos manter nesse estado de permanente positividade.
As tais expressões “positivas” propagadas frequentemente, tornam-se um fardo e não um incentivo. Pois, geralmente nos força a negar nossos medos, dores e emoções, desrespeitando nossa personalidade, individualidade e história de vida. Expressões como “enquanto eles dormiam eu trabalhava” e outras máximas do tipo que pode funcionar para um ou outro; a tentativa de generalizar uma fórmula é superficial e desrespeitosa.
Ao invés de pessoas felizes, nos tornamos cada vez frustradas e ansiosas; desenvolvemos doenças como a depressão, Síndrome de Burnout (estado físico, emocional e mental de exaustão extrema) e do pânico, déficit de atenção, transtornos de personalidade (bipolaridade e borderline), anorexias, entre outras. Como podemos evitar tudo isso??? compreendendo que a vida tem altos e baixos. Para que a brincadeira na gangorra funcione é necessário o equilíbrio entre as duas partes. Na vida não é diferente, é preciso equilibrar o bom e o mau, luz e sombra, tristezas e alegrias.
Estímulos positivos são importantes para tonar nossa vida melhor, mas ninguém tem a obrigação de ser feliz e estar bem o tempo todo. É impossível viver, se construir e se autoconhecer apenas sendo feliz. Ser positivo não é ignorar os problemas, negando nossas emoções e sentimentos negativos, mas vislumbrando-os sob outras perspectivas, aprendendo a lidar com as oscilações da vida da melhor forma possível, entendendo que NÃO DÁ PARA SER FELIZ O TEMPO INTEIRO. E TUDO BEM SE NÃO ESTIVER TUDO BEM.
Por @Giorgia Barreto
| Terapeuta Integrativa (CRTH-BR5947)
| Educadora e Psicanalista
| Email: giorgiabarreto@gmail.com