“Teremos um realinhamento na estrutura comercial do mundo. O mercado globalizado como o conhecemos hoje, já está em plena mudança. Os blocos comerciais como União Européia e Mercosul deverão abrir lugar para acordos bilaterais entre países. O Brasil, se aproveitar a oportunidade, poderá ser prioridade no comércio internacional com a China e os EUA”, acredita o economista que atua nos EUA, Carlo Barbieri.
Os efeitos da pandemia no mercado global deverão ser extremos e provocar profundas alterações na forma como os países negociam seus produtos e serviços. É o que constata uma avaliação preliminar do comportamento do comércio exterior nos primeiros meses da pandemia, feita pelo economista e analista político, Carlo Barbieri, que preside, há mais de 30 anos, a consultoria americana Oxford Group.
Na avaliação, Carlo Barbieri pondera que fenômenos recentes como a saída da Inglaterra da União Europeia e da Argentina do Mercosul, demonstram que estas mudanças seguiram, seu rumo, mas de forma mais ágil consolidando uma nova era para relações comerciais entre os países. Para ele, a pandemia está acelerando essa ruptura dos blocos comerciais e abrindo espaço para uma nova dinâmica comercial pautada sobre acordos entre países. Os Acordos bilaterais serão a nova forma de globalização.
“Há um acirramento da guerra comercial entre China e Estados Unidos. A China exportava US$ 800 bilhões para os EUA anualmente e só comprava US$ 400 bilhões. Ou seja, havia um desbalanceamento grande e, por outro lado, as indústrias que estão saindo de lá buscarão países como o Brasil para ancorar sua indústria.
O Brasil é o principal parceiro comercial dos EUA e da China e poderá ter protagonismo nos dois países, caso compreenda essa nova forma de jogo de mercado”, afirma Carlo Barbieri.
Para o economista, já nestes primeiros meses da pandemia, os produtos brasileiros ocupam posição de destaque nos mercados com a China e com os EUA. O ministério da agricultura do Brasil divulgou este mês, o aumento da exportação de carnes suína e bovina para a China. Segundo o Departamento de Alfândegas, mesmo com a pandemia as exportações de suínos cresceram. O destino foi a China, maior consumidor de carne suína do mundo.
Por outro lado, dados da Organização ComexVis colocam os principais destinos aos produtos brasileiros os Estados Unidos com 17,36% das exportações e China com 12,45%. Um protagonismo que deve aumentar segundo avaliação do economista que tem especializações nos Estados Unidos e mapeia o comércio exterior e relações comerciais do Brasil com o mundo.
“Os Estados Unidos já estão negociando diretamente com o Japão, Rússia, Índia etc., com o Brasil, assim como o fizeram com a Coreia, Flipinas e outras nações . A fuga das empresas internacionais da China em busca de outro lugar para desenvolver suas atividades e continuar provendo seus produtos no mercado americano, devem também conferir ao Brasil um papel de protagonismo comercial. O que veremos então, é um novo mercado americano mais aberto a substituir produtos que normalmente vinham da China”, pondera Carlo Barbieri.
Brasil e China
Segundo o estudo do economista, o Brasil terá uma grande possibilidade de não só exportar o que já produz como também receber tecnologia e investimento de indústrias que estão saindo da China e que estão em busca de um outro lugar para ficar. Barbieri pondera que o Brasil tem parques industriais muito bem estruturados que poderão agora, com uma política de governo mais voltada à exportação, aumentar seu fluxo.
“A peste que se abateu na produção suína na China desde o ano passado, a fez aumentar a demanda de compra a nível mundial. Então é realmente um seguimento interessante para o Brasil entrar. A China, em particular, tem tido altos e baixos nessa produção agrícola, principalmente na área animal por conta da falta de “cuidados” na área de saneamento. O importante é manter o custo de produção baixo, porque na medida que a China retorne a sua capacidade de produção, ela vai procurar produtos que possam manter a qualidade, mas também preços competitivos”, avalia o economista.
Para Barbieri, a China não tem problema de divisas. Ele cita que o país tem um programa de cerca de US$ 2 trilhões de reservas só em bônus no tesouro americano. “É claro que há interesse da China em continuar sua exportação. O país tem, inclusive, um projeto que chama “Made in China 2025″ que é o domínio do comercio mundial através da logística. Um projeto oficial do partido comunista da China. Por isso que o país criou a rota da seda, ampliou toda a sua capacidade de compra na área de portos e construção de ferrovias. Porque sabe que sua demanda será crescente”.
É objetivo da China tirar o poder do dólar no mercado mundial e colocar como alternativa a sua moeda digital, recém lançada. Para comprar e vender para a China está será a nova moeda. A “queima de estoques das reservas em títulos do tesouro américa, faz parte desta estratégia, pois espera a desvalorização do dólar. Por isto a China quer transformar este ativo financeiro em bens reais e esta indo as compras tanto de ações (Interessantemente desvalorizadas face a pandemia) e propriedades, no mundo todo.
O economista destaca que a medida que melhora a qualidade de vida do povo chinês o país precisa de mais produtos, particularmente agrícolas. E a parte da exportação da China está mais voltada para o seguimento industrial. É onde praticamente o país ganha mais e pode pagar melhor aos seus cidadãos.
“Sem dúvida o mundo inteiro vai comprar menos, não é só o Brasil que diminuiu a sua compra. A demanda de petróleo caiu a praticamente quase zero. Então a China vai buscar um reequilíbrio, mas esse reequilíbrio não é necessariamente contra o Brasil. Porque o Brasil é um parceiro importantíssimo para a China. E o Brasil pode tirar um grande proveito nessa ocasião agora em que a China continuará tendo que disputar mercado para os seus produtos, porém, está sofrendo uma série de ações, inclusive públicas, a nível da justiça em função de ter liberado de maneira irresponsável e tardia informações do vírus o que está causando também uma crise política com o mundo inteiro”, defende Carlo Barbieri.
Brasil e EUA
Uma nova relação comercial dos Estados Unidos com o Brasil também está prevista pelo estudo elaborado pelo economista brasileiro. Um novo mercado em que o Brasil, se aproveitar a oportunidade, poderá ocupar papel central na relação comercial com o vizinho americano. Barbieri destaca que já está em curso uma negociação mais direta entre o país norte-americano e o Brasil.
“Na área agrícola, em particular, com toda sua capacidade de produção de proteína animal, o Brasil deve ocupar um lugar de destaque. Isso porque a pandemia não só acabou atrapalhando a produção nos EUA, como também na China. Com isso, o país se coloca como um eminentemente provedor de produtos de alta qualidade para o mundo em geral e para esses dois grandes países, em particular”, finaliza o economista e analista político Carlo Barbieri.
*Carlo Barbieri é analista político e economista. Com mais de 30 anos de experiência nos Estados Unidos, é Presidente do Grupo Oxford, a maior empresa de consultoria brasileira nos EUA. Consultor, jornalista, analista político, palestrante e educador. Formado em Economia e Direito com mais de 60 cursos de especialização no Brasil e no exterior.