Combinação de fatores climáticos e terroir da região deixam enólogos animados para engarrafar novos vinhos e espumantes

Os produtores do Vale dos Vinhedos estão se despedindo da vindima de 2025 animados: a safra encerra com bons números de produtividade e altos níveis qualitativos apresentados pelas uvas, incluindo as variedades emblemáticas da Denominação de Origem, Chardonnay e Merlot. Os resultados seguem uma tendência que vem se concretizando desde 2018, com uma sequência de safras excelentes em termos de qualidade.
 

Pluviosidade adequada, com chuvas espaçadas e em pouca quantidade, e muitas horas de sol contribuíram para uma ótima maturação do fruto. Outro fator essencial para isso foi a amplitude térmica observada entre meados de dezembro de 2024 e a primeira quinzena de janeiro 2025, com dias quentes e ensolarados e noites frescas. “Desde o inverno, tivemos um bom período de frio, que propiciou uma brotação bem uniforme. E durante todo o ciclo vegetativo tivemos todos os fatores adequados para atingir o ponto ideal de maturação das uvas”, observa o enólogo André Larentis, vice-presidente da Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale).
 

De acordo com a Embrapa Uva e Vinho, embora o ciclo 2024-2025 tenha registrado chuvas intensas em abril e maio, o volume total ficou abaixo da média climática histórica. De agosto de 2024 a janeiro de 2025, a soma total de chuvas foi de 519,2 mm, semelhante à de ciclos anteriores influenciados pelo La Niña, que trazem alta qualidade enológica – a média histórica para esse período é de 930 mm. Nem a chuva mais intensa de dezembro – 4mm acima da média de 144mm do mês – se tornou um problema porque nos meses anteriores o acumulado ficou abaixo da média. “As chuvas ocorreram principalmente na primeira quinzena do mês, e isso favoreceu o crescimento das bagas, sem impacto significativo no florescimento”, comenta o chefe adjunto do Centro de Pesquisa da Embrapa Uva e Vinho, Henrique Pessoa dos Santos. Os meses mais intensos da vindima tiveram pouca chuva. Em janeiro, foram 74 mm, pouco mais da metade da média de 140mm, enquanto fevereiro registrou somente 18,4mm diante da média normal de 139mm.
 

Nos últimos anos, o clima, sempre um componente importante para qualquer cultivar agrícola, tem ganhado cada vez mais atenção dos produtores. Conforme Santos, a região registrava um ano de La Niña, considerado um período de excelência para a produção vitivinícola, a cada cinco anos. Mas isso tem mudado. “O principal impacto é a convivência com eventos extremos: meses de chuvas intensas, seguidos de longos períodos de seca”, comenta ele, que observou alguns fatores importantes nesta safra. “A soma térmica elevada antecipou o ciclo da safra, e muitos dias quentes e ensolarados proporcionaram níveis altos de maturação”.