O anúncio do Instagram sobre o fim dos filtros a partir de 14 de janeiro de 2025 pode ser interpretado como mais do que uma simples mudança funcional: ele representa uma ruptura simbólica no modo como nos apresentamos nas redes sociais. Essa decisão nos faz revisitar conceitos clássicos das teorias da comunicação, como o “espaço público” de Jürgen Habermas e a “sociedade do espetáculo” de Guy Debord.
Durante anos, os filtros serviram como ferramentas de construção de identidade digital, permitindo que usuários moldassem sua imagem para atender às expectativas do “público virtual”. Contudo, ao abandonar essa prática, o Instagram pode estar sinalizando uma tentativa de reconexão com uma suposta autenticidade, ou mesmo criando novos padrões sociais a partir de uma “estética do real”.
Habermas defende que o espaço público deveria ser um ambiente de debate racional e democrático. No entanto, nas redes sociais, essa arena se transformou em um local de performances e consumo de aparências. O fim dos filtros, portanto, pode ser visto como uma tentativa de restabelecer a “verdade” da comunicação interpessoal, desafiando os padrões estéticos impostos até então.
Por outro lado, Debord, em sua obra A sociedade do espetáculo, alerta que qualquer movimento dentro do capitalismo digital pode ser, na verdade, um rearranjo de estratégias de controle. Será que a retirada dos filtros é realmente um convite à autenticidade, ou apenas uma forma de reforçar a necessidade de novos produtos ou serviços que moldem a autoimagem?
Além disso, a teoria dos usos e gratificações levanta outra reflexão: o fim dos filtros altera as razões pelas quais usamos as redes sociais? Para muitos, os filtros eram ferramentas de gratificação estética e emocional, e sua ausência pode transformar a experiência do usuário.
Como ficará o ambiente das redes sociais sem filtros? Será este um momento de ruptura e inovação, ou apenas uma nova etapa da constante adaptação às dinâmicas das plataformas digitais?
Por @EldoGomes